terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Sugestão de leitura


Há os que já desertaram da esperança em nome de uma crítica tão resolvida e fechada nos seus termos que se torna sectária, na acepção rigorosa do termo, de separação artificial do que se decide na história. Há os que ainda cultivam a esperança como se ela fosse um jardim de ilusões, imune às contradições e, por isso, incapaz de dialogar democraticamente com a crítica.

De modo alternativo a estas atitudes, é preciso repor os direitos da esperança crítica. Estes treze ensaios, escritos na hora mais crítica, pretendem refletir sobre os fundamentos da experiência do governo Lula e do Partido dos Trabalhadores a partir de um diálogo com a consciência democrática e republicana dos brasileiros.

Instala-se, de princípio, uma narrativa de sentido, um romance de auto-formação da esquerda socialista e democrática brasileira. Configura-se a cena histórica: a relação dos que se formaram no espírito do imperfeito republicanismo do Estado brasileiro.

Identifica-se o mal estar de uma cultura, o pragmatismo, a institucionalização, o carecimento das pulsões utópicas. Retorna-se, então, às fontes culturais mais generosas da utopia de um Brasil justo, democrático e soberano. E a crítica da crise, então, busca o caminho programático de pensar um novo princípio democrático de transição ao socialismo, que possibilite solidarizar a experiência de governo do Brasil com o futuro recriado das identidades socialistas.

As lutas sociais e políticas na América Latina derrotaram a hegemonia neoliberal das décadas de 80 e 90. Vivemos um tempo carregado de grandes e novas possibilidades, de superação das seculares desigualdades, miséria, violência contra o povo, agregada agora à assustadora destruição ambiental de nossos territórios. Um tempo que deve ser bem aproveitado. O desafio é reencontramos uma ação política orientada por valores humanistas, fortalecida e encorajada por uma cultura socialista, democrática e internacionalista. Que nos empurre para o novo, que nos dê confiança e sentido de urgência para o futuro,que estamos a construir.

O trabalho que o Juarez oferece, permite aproveitar bem esse tempo. Traz com extraordinária qualidade e atualidade a reflexão militante sobre a democracia socialista. Socialismo e democracia, dois compromissos que juntos, dão sentido e organizam uma estratégia transformadora revolucionária. A leitura torna-se um prazer obrigatório, pois a cada capítulo, o texto nos alimenta de um entusiasmo, que só a compreensão das coisas a serem mudadas e as virtudes da mudança são capazes de oferecer. A esperança critica, de Juarez Guimarães, cidadão do mundo, nascido mineiro, preenche uma lacuna no pensamento da esquerda brasileira: e inscreve-se nas melhores tradições da nossa literatura política.


Miguel Rossetto

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