Cada dia me preocupo mais com o conteúdo ideológico implícito nos estudos científicos.
Segundo o portal G1, um estudo belga comprova que os homens gastam mais dinheiro perante a insinuação sensual feminina. A manchete anuncia, como uma grande novidade, que não é só o corpo feminino que vende, mas qualquer referência a ele, como um biquíni ou uma lingerie.
Eu, sinceramente, não entendo o que leva um cientista a pesquisar se o fator estimulante é o corpo ou alguma referência a ele, pois a mensagem subliminar é a mesma: o feminino enquanto estratégia de venda, não enquanto ser humano.
A pergunta que não quer calar é: a quem serve esta pesquisa?
Certamente não é aos profissionais de humanas, que devem buscar a humanização, e não a coisificação do homem.
Esta pesquisa é muito útil a publicitários anti-éticos que buscam vender qualquer coisa a qualquer preço; aos capitalistas que, se pudessem, punham um código de barras na mãe e colocavam-na numa prateleira; às mulheres-objeto que querem se promover a qualquer custo.
"TPM: Você é a mais onipresente vendedora de cerveja do Brasil. Isso não faz de você uma mulher-objeto?
JP: Eu não, de jeito nenhum, o objeto é a cerveja! [Risos]"
Talvez, pra ela, seja muito divertida toda essa conjuntura: ela é linda, tem um corpo perfeito e condições financeiras para mantê-lo. Sim, financeiras, pois ninguém mantém uma imagem desse nível "bebendo dois litros de água por dia".
Por outro lado, mulheres de carne e osso, que não têm condições de bancar drenagem linfática, frango grelhado 3x por semana e estimulação russa, são obrigadas a conviver com depreciações machistas e têm sua auto-estima severamente abalada.
Agora a digníssima indústria de cerveja e sua garota propaganda podem rir ainda mais, pois tem um argumento científico - percebem o peso da palavra? - que legitima o corpo da mulher enquanto item de consumo. A pesquisa ignora o fator cultural como moldador do compotamento, apenas diz que "sim, a sensualidade feminina faz vender", como se fosse algo natural e imutável.
A matéria encerra com uma "brincadeira" absolutamente desnecessária do "cientista". "Objetos masculinos não parecem ter o mesmo efeito sobre as mulheres. `Os centros de recompensa neurais das mulheres não são tão ativados quanto os dos homens por esse tipo de estímulo´, afirmou Van der Berg. `Possivelmente, elas são ativadas por outros tipos de recompensas. Talvez, sapatos,´ brinca ele."
Podemos resumir em duas frases: A ciência diz que homens precisam de sexo e mulheres precisam de sapatos. Qualquer manifestação do contrário é anti-natural.
Isso é o que eu chamo de Psicologia Anti-Social.
4 comentários:
Como assim ela não é objeto? Se for assim o outdoor que anuncia um automóvel também não seria um objeto.
Ou melhor, retifico o que a “manequim” disse. Ela não é um objeto, é uma mercadoria.
Marx dizia ao ler a tese de Darwin sobre a concorrência entre espécies, que sua teoria científica não estava tão distante da ideologia. Dizia Marx que Darwin estava na verdade, projetando a contradição existente na sociedade para a natureza. De fato, em seu tempo mesmo muitos “cientistas sociais” (abomino este termo) usaram a sua teoria para legitimar a competição entre os homens no capitalismo como sendo natural. E de fato Marx tinha uma certa razão, Darwin não considerou outras formas de relação entre as espécies, como simbiose e a cooperação.
Muito boa postagem!
Publicitário "anti-ético" é um termo incorreto.
Publicitários têm ética: a ética de transformar pessoas e objetos em mercadorias. Isso é inerente à profissão deles.
Como um soldado é treinado para matar, enquanto houver guerras e, num mundo pacífico, desaparecerão os exércitos, da mesma forma, enquanto houver capitalismo, haverá publicitários. Quando vivermos em outro tipo de sociedade, não existirão mais publicitários.
tb achei redundante, mas sabe como é... hahaha
Você é demais, Lauren! Sua postagem sobre o aniversário da Fer esta muito boa!
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