domingo, 4 de maio de 2008

O Reducionismo e a Estereotipia na Mídia Tradicional

Acaba de passar no jornal da tv mais uma matéria ridícula criticando o sistema de seleção de alunos das universidades particulares.

Requentada é apelido, mas como nunca me pronunciei sobre o assunto aqui no blog, vou comentá-la.

Primeiro eles citam uma universidade como exemplo, no caso foi a UNIGRANRIO. Eles escolheram uma cujo sistema de aprovação é descaradamente ineficaz, mas há implícita uma crítica a vestibulares de universidades particulares em geral. Vestibular é modo de dizer, porque a maioria prefere o termo "processo seletivo".

Para tentar uma vaga na citada universidade, o aluno deve inscrever-se online, realizar a prova via internet na hora que quiser e o resultado vem por e-mail, meia hora depois. É óbvio que todos passam. Sendo assim, a equipe de reportagem, muito inovadora, convidou um grupo de crianças para realizar o teste e, claro, todos foram aprovados. Sim, eles foram superinovadores, afinal de contas, da última vez que uma matéria desse tipo foi veiculada (pelo mesmo jornal!), o "teste" foi feito com um analfabeto, e não com crianças. Muito originais.

Aí deram voz ao reitor da universidade. Ele foi muito enfático ao dizer que não dava o menor valor para os processos de seleção, e que, se dependesse dele, qualquer um poderia de matricular. É claro que sua fala foi cortada neste momento. Provavelmente, se ele pudesse terminar de falar, diria que a dificuldade em se inserir em determinada instituição não é termômetro para avaliar sua qualidade; que há, em toda e qualquer universidade, um processo de "seleção natural", assim como no mercado de trabalho, portanto, o fato de não haver um instrumento de seleção rígido não contribuía negativamente para a sociedade.

Mas não. A imagem que fica desta universidade (e de todas as outras onde todos são aprovados) é a de descompromisso com o ensino.

Não escrevo para defender universidades particulares, afinal, num sistema educacional ideal, todos teriam acesso gratuito do berçário ao doutorado, mas critico a mensagem subliminar de que o profissional formado pela particular é inferior ao da pública. Nada mais elitista, preconceituoso e medíocre.

Infelizmente, nada mais condizente com o atual contexto social. Numa sociedade onde é mais fácil ler um rótulo do que refletir, as pessoas que não entram numa universidade pública muitas vezes optam por perder anos das suas vidas em cursinhos ao invés de ingressar numa particular e se empenhar em ser um bom profissional. Muitos dos que têm condições de entrar numa pública (geralmente oriundos de colégios caros), aproveitam seus anos acadêmicos para cometer todo tipo de humilhação aos que não tiveram esta oportunidade, ao invés de usarem seus conhecimentos para o bem da população.

Os que entram em particulares, além do esforço natural para concluir o curso e se inserir no mercado de trabalho, têm sua auto-estima atacada a todo momento, e não raro precisam "provar" que podem ser tão competentes quanto os da pública.

Tudo isso chega a ser óbvio, mas a cada dia me certifico de que, pelo menos aqui, no capitalismo selvagem, universidade é troféu. O indivíduo passa a vida escolar se preparando, decorando tabela periódica, datas históricas e fórmulas matemáticas, ignorando outros aprendizados talvez mais importantes para sua vida, como noções de cidadania, convívio social e respeito ao próximo, para no final pegar seu prêmio: um diploma com o timbre de uma instituição de peso para emoldurar e pendurar na sua sala. Diploma esse que vai justificar qualquer ato que a pessoa venha a realizar profissionalmente, ainda que não traga benefício nenhum à humanidade.

Um comentário:

Unknown disse...

Tenho que admitir que o nobre colega tem escrito como "gente grande".

Parabéns pelo blog, idéias e textos. Os que li são brilhantes!

Ainda não recebi o seu banner. Envie-me pelo endereço eletrônico do BOL: www.jailsonmarinho@bol.com.br

Um abraço