Um amigo sindicalista me disse, certa vez, que no início de sua militância, junto com outros companheiros, escreveu um manifesto sobre determinada eleição. Contrariada, uma certa ex-deputada tentou desqualificá-lo com base em supostos erros de grafia ou concordância.
Essa postura autoritária e preconceituosa se manifesta mesmo nos setores mais progressistas da sociedade. A tal ex-deputada era, ou se considerava, de esquerda.
Mencionei essa situação para fazer uma sugestão de leitura, ainda que tardia. Na edição de fevereiro da revista Caros Amigos, o lingüista Marcos Bagno esclarece de forma bastante clara e fundamentada como muitos erros que cometemos no dia a dia são naturais e mesmo a origem da própria língua portuguesa.
Ele também diz que nós falamos uma língua que pode ser considerada uma variante do português tradicional – o português brasileiro.
Entre outras construções próprias do “português brasileiro” está a recusa da mesóclise (início do verbo + pronome + terminação verbal):
...observar-me-ia...
e a preferência nacional pela próclise (pronome + verbo)
... me observou ...
ao invés da ênclise (verbo + pronome)
...observou-me...
Alguns escritores contemporâneos, como Rubem Fonseca, já incorporaram essas construções próprias do “português brasileiro”. E também, já há várias décadas, o genial Oswald de Andrade, num poema antológico:
pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
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Um comentário:
chega a ser engraçado quando a pessoa não tem argumentos pra te desqualificar e apela pra detalhes (que nem errados estão) do texto... acaba desqualificando a si mesma...
parabéns pelo post, adoro essa poesia!
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