quinta-feira, 6 de março de 2008

Erro de português brasileiro

Um amigo sindicalista me disse, certa vez, que no início de sua militância, junto com outros companheiros, escreveu um manifesto sobre determinada eleição. Contrariada, uma certa ex-deputada tentou desqualificá-lo com base em supostos erros de grafia ou concordância.

Essa postura autoritária e preconceituosa se manifesta mesmo nos setores mais progressistas da sociedade. A tal ex-deputada era, ou se considerava, de esquerda.

Mencionei essa situação para fazer uma sugestão de leitura, ainda que tardia. Na edição de fevereiro da revista Caros Amigos, o lingüista Marcos Bagno esclarece de forma bastante clara e fundamentada como muitos erros que cometemos no dia a dia são naturais e mesmo a origem da própria língua portuguesa.

Ele também diz que nós falamos uma língua que pode ser considerada uma variante do português tradicional – o português brasileiro.

Entre outras construções próprias do “português brasileiro” está a recusa da mesóclise (início do verbo + pronome + terminação verbal):
...observar-me-ia...
e a preferência nacional pela próclise (pronome + verbo)
... me observou ...
ao invés da ênclise (verbo + pronome)
...observou-me...

Alguns escritores contemporâneos, como Rubem Fonseca, já incorporaram essas construções próprias do “português brasileiro”. E também, já há várias décadas, o genial Oswald de Andrade, num poema antológico:

pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Um comentário:

L. Archilla disse...

chega a ser engraçado quando a pessoa não tem argumentos pra te desqualificar e apela pra detalhes (que nem errados estão) do texto... acaba desqualificando a si mesma...

parabéns pelo post, adoro essa poesia!