domingo, 30 de novembro de 2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sorocabano recebe prêmio Zumbi dos Palmares na Assembléia Paulista


O agente cultural sorocabano, Márcio Roberto Brown, será homenageado nesta quarta-feira (26/11), pela Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp), com o prêmio Zumbi dos Palmares. Brown foi indicado pelo deputado estadual Hamilton Pereira (PT) por ter se destacado na ação em defesa da promoção da igualdade racial e luta contra o racismo.


Membro da ONG Ação Periférica que atua junto ao segmento negro, Brown também é diretor do documentário "Hip Hop em Movimento", que conta a vida de pessoas envolvidas com essa cultura. O agente cultural iniciou no Hip Hop no final da década de 80 e permanece até hoje atuando na difusão da cultura black.

“Posso afirmar com segurança que o Brown tem uma vida dedicada ao hip hop, ao movimento negro e à busca de mudar a realidade social que permeia a vida das pessoas que integram essa parcela da população”, observa Hamilton. “Pelo seu trabalho, Brown tem obtido o reconhecimento da sociedade, tanto que se tornou uma forte referência em Sorocaba para as ações afirmativas em defesa da promoção da igualdade racial”, completa.

A entrega do Prêmio Zumbi dos Palmares faz parte do calendário da Semana da Cultura Negra organizada, na Assembléia Legislativa de São Paulo, pela Frente Parlamentar de Promoção da Igualdade Racial, pelo Grupo de Negros e Negras da Alesp e pela Mesa Diretora da Casa.

Zumbi nasceu escravo em 1655, fugiu para o Quilombo dos Palmares e se transformou no maior símbolo da resistência negra contra a escravidão. Zumbi e toda a comunidade do Quilombo resistiram durante muitos anos corajosamente aos ataques da milícia portuguesa. Em 20/11/1694, o líder quilombola foi capturado e morto numa emboscada.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Cidades destruídas e terroristas de verdade

Há mais de quinze anos, numa tenebrosa noite de inverno em Iowa City, eu, um amigo argentino e uma espanhola saímos de uma livraria e entramos no primeiro bar à vista. Não me lembro qual era a temperatura externa; mas como estávamos em novembro, devia ser algo próximo a seis graus centígrados, com uma margem de erro de três graus (para baixo). Pedi uma taça de conhaque, folheei um livro de poesia de Walt Whitman e, lá pelas tantas, quando me senti menos esquimó e mais brasileiro, começamos a falar sobre Buenos Aires.

Naquela época eu ainda não conhecia Buenos Aires; no entanto, essa bela cidade existia na minha imaginação: ruas, bairros, parques, bares e personagens com os quais me havia deparado na leitura de contos e romances argentinos. De alguma maneira, a cidade não me era desconhecida, e essa familiaridade livresca foi uma espécie de bússola quando visitei Buenos Aires pela primeira vez. Parecia que estava voltando para lá, e que a viagem anterior, a imaginária, era quase mais real que a verdadeira.

Lembro que o meu amigo argentino, o escritor Rodrigo Fresán, começou a criticar com ironia seu país, e em algum momento nós dois criticamos nossos respectivos países. Minha crítica era um pouco mais amarga. Disse: Há poucos anos (1992) o presidente do Brasil, acusado de corrupção, foi destituído pelo congresso. E isso depois de vinte e cinco anos de ditadura.

Tragédias não nos faltam, disse Rodrigo. Aposto com você que a história da Argentina é muito mais trágica que a do Brasil.

Antes de enumerarmos os desastres de cada pátria, nossa amiga Anatxu interveio: A Espanha não fica atrás. Somos essencialmente trágicos. Mas não vamos falar de coisas tão tristes. Vocês conhecem Barcelona? Na minha juventude eu tinha morado em Barcelona, e as lembranças da capital da Catalunha eram mais ou menos nítidas. Contei para Anatxu e Rodrigo os lugares por onde caminhava por Gracia, o bairro onde morei seis meses; enumerei ruas e bares do bairro Gótico, de Barceloneta e do velho porto mediterrâneo. (Sabe-se que alguma coisa mudou depois das Olimpíadas de 1992, mas a fisionomia da cidade não foi alterada).

Tens uma memória e tanto, disse Anatxu.

Não é isso, eu disse. É que algumas cidades européias foram destruídas durante as guerras. No Brasil, a destruição das cidades é cotidiana. Quem morou no Rio, Recife ou São Paulo na década de 1940, quase não reconhece sua cidade hoje. Quer dizer, reconhece, mas muita coisa da memória urbana foi apagada para sempre.

Tentei explicar como, a partir da década de 1970, a especulação imobiliária, a ignorância de políticos, e a ganância de certas construtoras e instituições destruíram edifícios históricos e logradouros públicos em nome do "progresso". Seria algo como derrubar os belos edifícios da Recoleta e do bairro de Gracia para construir templos religiosos horrorosos ou torres não menos horrorosas de vinte ou trinta andares.

Mas por que vocês não protestam, perguntou Anatxu.

Hesitei, pensei em indicar-lhe a leitura de Raízes do Brasil, mas optei pelo silêncio. Um silêncio que traduzia impotência ou vergonha. O mesmo silêncio que me deprime quando vejo um alto magistrado declarar que os brasileiros que combateram a ditadura eram terroristas.

Pensava nas nossas cidades destruídas e na declaração desse alto magistrado quando encontrei por acaso o Jam, um velho amigo advogado. Jam estava revoltado com a declaração do juiz da suprema corte. Que belo exemplo cívico, ele exclamou, com ironia. Quanta lucidez histórica! E quanto menosprezo pelas vítimas dos torturadores, pelos jornalistas e operários e professores e tantos outros profissionais perseguidos e demitidos sumariamente!

Meu amigo tem razão. Esse senhor togado esqueceu que os militares golpistas de 1964 interromperam com ódio e brutalidade um governo eleito democraticamente. Esqueceu que eles, os magistrados, foram humilhados e ridicularizados por esses mesmo golpistas. Quanta diferença entre esse magistrado brasileiro e o juiz espanhol Baltasar Garzón, que moveu uma ação contra o ex-ditador Augusto Pinochet, acusado de assassinar milhares de chilenos.

Talvez seja essa a resposta à minha amiga espanhola: a Lei, na América Latina, não raramente protege os algozes e difama as vítimas. E isso serve para as nossas cidades destruídas, para os julgamentos de corruptos de colarinho branco, e torturadores e assassinos a mando de um Estado de exceção. Esses, sim, foram os verdadeiros terroristas, como disse meu amigo advogado Jam.

Milton Hatoum

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Porquê do Desprezo à Auto-Ajuda

Saiu na revista Vida Simples uma matéria chamada "O Grande Não", que fala da dificuldade das pessoas em se opôr a algumas situações.

É, de fato, uma matéria atrativa e bem escrita. A linha fina diz: "Ter firmeza de atitude e saber negar é uma arte que pode transformar sua vida. Descubra por que é legal não ser legal o tempo inteiro". Parece interessante, não? Mas quais os efeitos disso?

A revista coloca como se fosse um problema fácil de se solucionar. Você não sabe dizer não? "Experimente ser egoísta de vez em quando!", "Se não tiver certeza do seu sim, enrole. Peça tempo para pensar.", "Mude de opinião quantas vezes quiser".

Se o problema do indivíduo fosse unicamente não saber dizer não, estaria resolvido! Mas quem disse que o ser humano é superficial, assim? Ninguém nasce simplesmente sem saber dizer não. Por trás desta dificuldade podem haver mil questões a ser trabalhadas: medo de rejeição é uma delas, sim, como a própria revista cita. Mas de onde vem esse medo de ser rejeitado? É só isso, ou este medo soma-se a algum outro fator? Será que a pessoa realmente não sabe dizer não? Ou usa este medo para justificar situações onde, no fundo, ela queria mesmo dizer sim?

Eu, pessoalmente, conheço pessoas que usam a pose do "não sei dizer não" para manipular outras. Quer comportamento mais egoísta que esse? E aí o sujeito lê na revista: "Experimente ser egoísta!" - percebem a dimensão do problema?

Sem falar nos que apelam à literatura/jornalismo de auto-ajuda para dispensar a psicoterapia. O resultado é um grande passo pra trás, pois a pessoa acredita que está melhorando, quando na verdade está reprimindo sintomas. É como tomar Engov pra ressaca e se acabar na cerveja na semana seguinte. Até fazer uma cirrose, aí ele para de beber e vai procurar tratamento.

O que está por trás de tudo isso? Uma cultura imediatista, onde tudo é muito simples, basta comprar o remédio, o livrinho, ou o que seja. Não precisa pensar, refletir, digerir. A felicidade está a um passo - basta abrir a carteira.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido

Na noite do dia 25 de setembro de 1956, estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a peça Orfeu da Conceição, do poeta brasileiro Vinícius de Morais (1913-1980). Esta peça é uma adaptação do mito grego do lendário cantor Orfeu, cuja lira, dotada de sons melodiosos, amansava as feras que vinham deitar-se-lhe aos pés. Filho da musa Calíope, ele resgatou a sua esposa Eurídice do Inferno, após ela ter sido picada por serpente. A história de Vinícius decorre numa favela carioca, durante os três dias de carnaval.

Em 1959, o diretor francês MarceI Camus transpôs a peça para o cinema. Daí surgiu o filme Orfeu Negro, com músicas de Luiz Bonfá e Tom Jobim, a negra atriz americana Marpessa Dawn, os negros brasileiros Breno Mello, Lourdes de Oliveira e Adhemar da Silva. Cheio de belas imagens, como a do romper do sol na favela, a do aparecimento da Morte numa central elétrica, e ainda com o som dos sambas empolgantes, a película baseada na obra do letrista de "Garota de Ipanema", além de alcançar grande sucesso comercial, ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em Hollywood.

Pois bem, nesse ano de 1959, uma jovem americana de dezesseis anos, extremamente branca, sem um pingo de sangue negro, chamada Stanley Ann Dunham, nascida no Kansas, resolveu assistir em Chicago ao primeiro filme estrangeiro de sua existência. Foi ver o Orfeu Negro, só com atores negros, paisagens brasileiras, música brasileira, história brasileira. Ela saiu do cinema em estado de êxtase, maravilhada. Adorou aqueles negros encantadores de um país tropical e logo admitiu:

"Nunca vi coisa mais linda, em toda a minha vida."

Depois de tal arrebatamento, a jovem Stanley embarcou para o Havaí. E ali, aos dezoito anos, ela se tornou colega, numa aula de russo, de um jovem negro de vinte e três anos, Barack Hussein Obama, nascido no Quênia. A moça branca do Kansas, influenciada pelo filme Orfeu Negro, entregou-se a ele e dessa união inter-racial, nasceu em 4 de agosto de 1961 um menino, a quem ela deu o mesmo nome do pai e que é agora, aos quarenta e seis anos, o primeiro candidato negro à presidência dos Estados Unidos.

Eis um detalhe perturbador: comparando duas fotografias, descobri enorme semelhança física entre o brasileiro Breno Mello, o Orfeu do filme Orfeu Negro, e o queniano Barack Hussein Obama, pai do filho da americana Stanley Ann Dunham.

No começo da década de 1980, ao visitar o seu filho em Nova York, a senhora Stanley o convidou para ver o filme Orfeu Negro. Segundo o depoimento do próprio Barack, no meio do filme ele se sentiu entediado, quis ir embora. Disposto a fazer isto, desistiu do seu propósito, no momento em que olhou o rosto da mãe, iluminado pela tela. A fisionomia da senhora Stanley mostrava deslumbramento. Então o filho pôde entender, como se deduz da sua autobiografia, porque ela, tão branca, tão anglo-saxônica, uniu-se ao seu pai, tão negro, tão africano...

Não há dúvida, a sexualidade às vezes percorre caminhos misteriosos, que alteram de modo decisivo os rumos da história universal.

Se não fosse o fascínio da branca mãe de Barack Obama pelo filme Orfeu Negro, ela não se entregaria ao rapaz queniano, um preto retinto.

A rigor, sem o Brasil, sem a história do poeta brasileiro Vinícius de Morais, o filme Orfeu Negro não existiria. Portanto, se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido.

Apresenta uma lógica perfeita, a nossa conclusão. E avanço mais: se ele for eleito, o meu país, a pátria de Lula, será a causa da mudança da historia dos Estados Unidos. Aliás, o Brasil já mudou essa história...

autor: Fernando Jorge

domingo, 2 de novembro de 2008

El Condor Pasa



El Cóndor Pasa é uma obra teatral musical, classificada tradicionalmente como zarzuela, à qual pertence a famosa melodia homônima. A música foi composta pelo compositor peruano Daniel Alomía Robles e a letra, por Julio de La Paz, (pseudônimo de Julio Baudouin). No Peru, foi declarada Patrimônio cultural da Nação, em 1993.

A história transcorre no assentamento mineiro Yapaq de Cerro de Pasco, Peru e constitui-se uma obra de denúncia social. É a tragédia do enfrentamento de duas culturas: a anglo-saxônica e a indígena. A exploração de Mr. King, dono da mina, tem sua culminação na vingança de Higínio, que o assassina. Mas, para substituí-lo, chega Mr. Cup. E a luta tem que ser reiniciada, e o condor que voa nas alturas é o símbolo da desejada liberdade.

A letra

Ó majestoso Condor dos Andes,
leva-me ao meu lar, nos Andes,
Ó Condor.
Quero voltar à minha terra querida e viver
com meus irmãos Incas, que é o que mais anseio
Ó Condor.

Em Cusco, na praça principal,
espera-me, para passearmos em
Máchu Pícchu e Huayna Pícchu.

sábado, 1 de novembro de 2008

O Mercado e os burros (ou, os burros do mercado)

Uma vez, num pequeno e distante vilarejo, apareceu um homem anunciando que compraria burros por R$10,00 cada. Como havia muitos burros na região, os aldeões iniciaram a caçada. O homem comprou centenas de burros a R$10,00, e como os aldeões diminuíram o esforço na caça, o homem anunciou que pagaria R$20,00 por cada burro.

Os aldeões foram novamente à caça, mas logo os burros foram escasseando e os aldeões desistiram da busca. A oferta aumentou então para R$25,00 e a quantidade de burros ficou tão pequena que já não havia mais interesse em caçá-los. O homem então anunciou que compraria cada burro por R$50,00! Como iria à cidade grande, deixaria seu assistente cuidando da compra dos burros.

Na ausência do homem, seu assistente propôs aos aldeões: - "Sabem os burros que o homem comprou de vocês? Eu posso vendê-los a vocês a R$35,00 cada. Quando o homem voltar da cidade, vocês vendem a ele pelos R$50,00 que ele oferece, e ganham uma boa bolada".

Os aldeões pegaram suas economias e compraram todos os burros do assistente. Os dias se passaram, e eles nunca mais viram nem o homem, nem o seu assistente, somente burros por todos os lados.

Entendeu agora como funciona o mercado de ações?