Lá pelos meus 15 anos, no curso técnico, tive aula de Ética e Cidadania com uma professora incrível chamada Renata Leocádia. Lembro-me com clareza de um dia em que ela abordou a diferença entre moral e ética. Não sei quais foram as fontes de estudo que a levaram a esta conclusão, tampouco se é a definição considerada oficial (já ouvi controvérsias), mas dentro de um assunto tão abstrato fica difícil achar um padrão universal. Sendo assim, adotei sua definição como correta porque pra mim faz muito sentido.
Ela definiu moral como um conjunto de valores de determinado grupo; já á ética seria uma conduta considerada correta universalmente. Por exemplo, dentro de uma família conservadora norte-americana dos anos 70, uma moça não deveria fazer sexo antes do casamento. Entretanto, em meio a um grupo de hippies do mesmo país e da mesma década, esta restrição não faria sentido. Isto são valores morais. Um exemplo de valor ético seria posicionar-se contra a escravidão ou a violência. Escravidão é escravidão em qualquer lugar do mundo, em qualquer cultura. Dizer que não é contra o trabalho escravo infantil do Nordeste brasileiro porque isto é costume de lá, não é respeitar as barreiras culturais, é omitir-se diante de uma questão ética.
Onde eu quero chegar com tudo isso?
A Anistia Internacional Sueca está promovendo uma campanha de conscientização contra a mutilação genital feminina, aquela operação bizarra que é costume em alguns países da África, onde a pré-adolescente é levada por alguém da família a um lugar sem a mínima condição de higiene e tem seu clitóris arrancado por uma lâmina enferrujada; em seguida sua vagina é costurada. Num lugar onde as mulheres são vendidas pelos pais, é uma intervenção vista por eles como vantajosa, pois valoriza a "mercadoria": além da moça ficar mais "apertada", ela não corre o risco de fugir com outro homem, porque sua capacidade de sentir prazer sexual praticamente foi embora com o clitóris.
Questão 1 - É problema da Suécia?
Sim. Com o aumento de imigrantes africanos no país (onde a intervenção é proibida), cirurgias ilegais se tornam um problema para a saúde pública. Além disso, há famílias que mandam as meninas nas férias para os países de origem, apenas para realizar a mutilação.
Questão 2 - É problema seu?
Sim. Aí vem a parte de não se omitir em questões éticas. Violência, machismo e mercantilização do corpo humano são condenáveis em qualquer meio. Usar o "respeito às barreiras culturais" para justificar tal atrocidade é a maneira mais covarde de dizer "tanto faz".
Fonte: blog Síndrome de Estocolmo
5 comentários:
Bom dia,
Eu discordo do conceito de ética apresentado por você.
Não existe ética universal, ela varia de acordo com os interesses de classe, religiosos, econômicos e etc.
A ética dominante, universal, é a ética da camada social dominante.
Quanto a campanha, concordo integralmente, é uma barbaridade, no sentido nato da palavra.
Mas aqui também entra uma contradição: vamos impor nossa opinião, nossa ética, pela força?
A ética é universal no sentido em que ela é universalizada pela classe hegemônica.
Oi, Alexandre!
Quanto ao "o que fazer?", é realmente uma incógnita. Pressionar o governo somaliano para aprovar algum tipo de proibição seria uma faca de dois gumes, pois não impediria da operação continuar sendo feita ilegalmente, assim como os abortos no Brasil, por exemplo.
O que podemos fazer, no momento, é levantar debates e fazer com que as pessoas assumam posições perante estas questões. Já ouvi gente dizer que "não podemos opinar sobre um assunto que não diz respeito à nossa cultura". O que a gente vai fazer com um monte de gente consciente, depois, eu não sei. Rá rá rá.
Abraços.
Boa noite,
Só tem um jeito: impor, uma nova visão de mundo.
apoiado
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