quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O mercado financeiro também tem sentimento

Pessoal, vejam esse vídeo incrível, extremamente didático sobre a crise financeira, envolvendo as hipotecas, os bancos etc... e saibam mais sobre os sentimentos do mercado.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Galo e Cruzeiro e um jazz no coração

Por ROBERTO AMARAL


Quando jogam Atlético e Cruzeiro, como acontecerá no domingo que vem, eu me lembro do meu pai.

Eu tinha 11 anos quando vi meu pai ser levado pela Polícia Política.

A gente morava ali na rua do Ouro, no bairro da Serra, perto da Volla Rizza.

Era domingo, eu acabara de acordar quando os homens da polícia apareceram na minha casa.

Eles chegaram numa Rural cor de café com leite e ficaram parados na porta, e na outra esquina, mais adiante, um Jeep do exército com dois homens dentro observavam tudo.

Foi a dona Bela, uma italiana de peitos grandes, que morava defronte a nossa casa, quem avisou a minha mãe de que a polícia rondava o nosso portão.

Minha mãe desligou o telefone, abraçou o meu pai (que comia pão com manteiga) e começou a chorar.

Meu pai adorava comer pão molhado no café.

Eu fiquei ali, olhando para o chão com o cadarço do sapato desamarrado enquanto a minha mãe chorava abraçada com o meu pai.

Meu pai foi preso vestido com a camisa do Atlético.

Era a de número 9, do artilheiro Dario Peito de Aço.

Aquele domingo era dia de clássico no Mineirão e, pela primeira vez na vida, meu pai ia me levar para ver uma de suas paixões: o futebol.

Naquela época algumas reuniões do Partidão eram feitas em dias de grandes jogos no Maracanã, Morumbi, Fonte Nova, Beira Rio e nos Aflitos.

Era uma tática para despistar os caçadores de aparelho.

O meu pai foi preso ao ser denunciado por um "cachorro".

Cachorro era o nome que a polícia dava ao espião infiltrado no partido a serviço do exército brasileiro.

Acompanhei o jogo deitado na cama da minha mãe, ouvindo o mesmo radinho de cabeceira em que meu pai acompanhava a Voz do Brasil e o repórter Esso.

Enquanto ouvia o jogo, a minha mãe ficava ao telefone tentando mobilizar amigos influentes para saber notícias de meu pai.

O Atlético derrotou o Cruzeiro por três a dois e Dario Peito de Aço foi quem marcou o gol da vitória.

O genial Vilibaldo Alves parecia querer prestar uma homenagem ao meu pai narrando o terceiro gol do Galo: Adivinhe ! goooooooool Daaaarioooo! Daaaaaariooooo! Daaaaaariooo! Daaaaariooo! Peito de Aço!!!

Quando o jogo terminou, eu corri para a janela na esperança de ver o meu pai, que nunca mais voltou.

Agora, todas as vezes em que jogam Atlético e Cruzeiro eu me lembro dele, dentro do carro da Polícia Política, vestido com a camisa do Atlético.

Era a de número 9.

Todas as vezes que jogam Atlético e Cruzeiro, um jazz toca no meu coração.


*Roberto Amaral é jornalista da Rede Minas, em Belo Horizonte.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Uma reveladora experiência de rua no domingo da eleição na maior cidade do País

Como Kassab ultrapassou Marta
Por Mauro Carrara (publicado no Blog do Azenha)

Conforme costume antigo, costumo visitar velhos amigos em dias de eleição. Perambulo pela cidade à procura do "espírito" da eleição, pois, sim, cada uma tem o seu, das barbadas aos prélios mais renhidos.

Desde cedo, notei certa tendência de defecção nos redutos "progressistas". Havia nos fundos do Tucuruvi um jovem negro, em trajes de grife surfe, distribuindo discretamente santinhos de Kassab. Vejam bem, ele não fazia campanha para um candidato à vereança, mas para o majoritário. Só.

O rapaz é estudante do terceiro ano do segundo grau, comprou recentemente seu primeiro computador, a crédito. O pai é vigia (conseguiu carteira assinada há três anos) e a mãe é diarista. Ele atualmente não trabalha regularmente. Nos fins de semana, atua como assistente de som em bailes na região dos Jardins. É o típico emergente da nova classe C.

João (vamos chamá-lo assim) afirma que o governo Lula "acostuma mal os vagabundos" com o Bolsa Família. A mãe sempre votou em Marta, mas o pai costuma odiar qualquer petista. "Meu velho não quer saber do casamento gay em São Paulo, nem eu", sentencia, alisando a sobrancelha. Mais tarde, encontro-me na região do Jardim Aricanduva, na Zona Leste. Márcia (vamos chamá-la assim) come uma coxinha num bar próximo a uma escola estadual. Vai votar em seguida.

Tem uma colinha de Kassab (DEM) e de um candidato a vereador do PSDB. - Vai votar em quem?

- Dessa vez é no Kassab – revela a moça, que graças ao crescimento da renda familiar (ela e dois irmão conseguiram emprego nos últimos três anos) pôde matricular-se numa faculdade privada.

- Por que nele?

- É o menos pior...

- E pra vereador? - Voto é segredo. Mas vai ser no PSDB. Um amigo da faculdade me indicou. É um cara que escreveu vários livros de auto-ajuda.

- É o Chalita (ex-secretário estadual de educação)?

- A gente precisa de pessoas cultas na Câmara. Esse aí é o melhor escritor do Brasil. - O que você já leu dele?

- Ainda não li, porque não tenho tempo. Mas esse meu amigo diz que é muito bom.

- A Marta era mais forte por aqui, não era?

- Era, mas ela fez o apagão aéreo e mandou o povo gozar depois do estupro. Tem como uma pessoa passar uma hora, uma hora e meia, esperando o avião?

- Como?

- O povo ficar horas esperando o avião...

- É chato mesmo – respondo. – Mas você já viajou de avião? – indago.

- Nunca. O mais longe que fui na vida foi para Mongaguá (litoral sul).

- Entendo. E o trânsito em São Paulo?

- Péssimo. Entre metrô e ônibus, fico umas 4 horas e meia no transporte, todo dia. Não anda. - E de quem é a culpa? - Sei lá... Tem muito carro na rua. Precisava fazer alguma coisa.

- E você não acha que o Kassab tem alguma responsabilidade nisso?

- (silêncio)... Não sei. Não parei para pensar.

- Isso afeta sua vida, não? - Muito, mas a gente tem que lidar com isso...

Quase cinco da tarde, na região dos Jardins. O filho de um amigo chega da votação com três colegas. O rapaz é o único que votou em Marta Suplicy. Dos colegas, dois preferiram Kassab. O outro votou em Geraldo Alckmin.

- Na verdade, eu e toda minha família somos malufistas, mas o Kassab é o único que pode ganhar dessa "vaca" da Martaxa – diz Paulo (vamos chamá-lo assim), exaltado.

- Sim, as taxas devem ter prejudicado muito sua família... – pondero.

- Meu pai fez a empresa dele sem ajuda de ninguém. A gente ta cansado de pagar os impostos que o PT inventou. Cada dia tem um imposto novo.

- Que imposto novo? - Vários.

- Mas quais?

- Vários. Tudo para sustentar vagabundo nordestino. E olha que eu não sou nem um pouco racista. Tenho até amigo japonês, negro, de todo tipo. Mas com esse negócio de bolsa, o cara se acostuma a não trabalhar e fica tomando cachaça o dia inteiro. É preciso ensinar o cidadão a pescar, e não dar o peixe.

- Mas o Bolsa Família está integrado a vários projetos de promoção e inclusão. Tem a contrapartida educativa... – tento argumentar, quando sou interrompido.

- Tem nada. Isso aí é coisa da mídia que o Lula comprou.

- Mas a mídia costuma ser contra o presidente – afirmo.

- Nada disso. O senhor viaja muito, pelo que eu sei, não é? Aqui, eles inventam pesquisa para dizer que a vida do povão melhorou. Melhorou nada.

- Mas e os dados do Ipea, do IBGE?

- Eu estudo Administração. Isso é tudo mentira.

- Quer dizer que o país não melhorou em nada?

- Esse semi-analfabeto deu sorte. Aproveitou o Plano Real e o crescimento da China... Agora, quero ver. Estou só esperando para ver o que vai acontecer. E vou dar risada.

- Mas o país não estava muito bem em 2.002 – intervenho.

- O PT é o "partidão", não é?

- Não que eu saiba – respondo.

- É sim... Eu abri os olhos de muito colega sobre esse comunismo disfarçado aí... Nessa eleição, eu convenci muito petista a votar no Kassab.

- Quem?

- O nosso motorista, o jardineiro que vai lá em casa...

Já são 18h20... Alguém grita do interior da casa: "o Kassab está ganhando". Os três jovens urram de prazer. Está se iniciando a longa noite até o segundo turno.

domingo, 5 de outubro de 2008

HEGEMONIA ÀS AVESSAS

Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Campus Cidade Universitária

Anfiteatro da Geografia


Seminário Internacional do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania – Cenedic

HEGEMONIA ÀS AVESSAS
Economia, Política e Cultura na Era da Servidão Financeira

– 21/22/23/24 de Outubro de 2008 –

21 de outubro

17:30: ABERTURA – Gabriel Cohn (USP)

19:00 – O TRABALHO APÓS O DESMANCHE

Ricardo Antunes (Unicamp)

Arne L. Kalleberg (Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill)

Yves Cohen (École de Hautes Études en Sciences Sociales - EHESS)

22 de outubro
14:00 – A CULTURA DA SERVIDÃO FINANCEIRA

Maria Elisa Cevasco (USP)

Luiz Martins (USP)

Pedro Arantes (USP)


19:00 – DOMINAÇÃO FINANCEIRA E MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL

José Dari Krein (Unicamp)

Alexandre de Freitas Barbosa (Cebrap)

Márcio Porchmann (IPEA-Unicamp)


23 de outubro
10:00 – A AMÉRICA LATINA NA ENCRUZILHADA

Carlos Eduardo Martins (UFF)

Ary Minella (UFSC)

Gilberto Maringoni (Faculdade Casper Líbero)


14:00 –DO APARTHEID AO NEOLIBERALISMO

Dennis Brutus (Universidade de KwaZulu-Natal – África do Sul)

Omar Thomaz (Unicamp)

José Luis Cabaço (Universidade Eduardo Mondlane - Moçambique)


19:00 – O SOCIALISMO APÓS O DESMANCHE

Alvaro Bianchi (Unicamp)

Brian Palmer (Trent University)

Wolfgang Leo Maar (UFSCar)

24 de outubro
10:30 - TEATRO E DESMANCHE URBANO

Sérgio de Carvalho (Cia do Latão)

Eugênio Lima (Núcleo Bartolomeu de Depoimentos; Frente 3 de Fevereiro)

José Fernando (USP, Teatro de Narradores)

14:00 – A CIDADE E A MISÉRIA DA POLÍTICA

Cibele Rizek (USP)

Mariana Fix (USP)

João Whitaker (USP)

Carlos Viener (UFRJ)


Mostra: O CINEMA DO DESMANCHE
Coordenação: Paulo Menezes (USP)

Filmes:

“Cronicamente inviável” de Sergio Bianchi.

“Os 12 trabalhos” de Ricardo Elias.

“O invasor” de Beto Brant.

Debate sobre os filmes da mostra dia 24 de outubro com Paulo Arantes e Paulo Menezes na sala 08 às 17:30

19:00 – ENCERRAMENTO

HEGEMONIA ÀS AVESSAS: DECIFRA-ME... OU TE DEVORO!

Francisco de Oliveira (USP)

Carlos Nelson Coutinho (UFRJ)

Paulo Arantes (USP)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Globalização do grampo

Advogado reclama a Condoleezza Rice de grampo brasileiro

O advogado do banqueiro Daniel Dantas em Nova York, Philip C. Korologos, remeteu à secretária de Estado dos Estdos Unidos, Condoleezza Rice, carta de 112 linhas, datada de 15 de setembro passado, em que reclama do governo federal do Brasil, da PF e do Ministério da Justiça. Motivo: diz que as conversas entre Daniel Dantas e o escritório de advocacia Boies, Schiller & Flexner LLP foram interceptadas pela PF.
Segundo Korologos, o direito do sigilo nas comunicações entre advogado e cliente, que é garantido por lei tanto nos Estados Unidos como no Brasil, foi violado com a interceptação de e-mails, conversas pelo sistema de telefones Skype ou mesmo videoconferências. A carta do escritório BSF para a secretária de Estado americana foi obtida com exclusividade pela revista Consultor Jurídico.
O advogado Korologos defende Dantas no processo que o Citicorp move contra o banqueiro e o banco Opportunity, referente à disputa pelo controle da operadora de telefonia Brasil Telecom. Korologos sustenta que a PF fez uso dessas conversas sigilosas, entre advogado e cliente, e as incorporou à Operaçã Satiagraha, que levou Dantas à cadeia. “Pedimos assim qualquer assistência que o Departamento de Estado possa nos dar”, roga Korologos à Secretária de Estado.
Na carta, endereçada à “honorável Condoleezza Rice”, Korologos diz que fala em nome do escritório BSF e para para trazer a seu conhecimento a interceptação, e conseqüente divulgação, de comunicações legais e do trabalho advocatício, produzidas em conexão com a chamada Operação Satiagraha, uma investigação da Polícia Federal do Brasil. “O acesso e quebra de sigilo de documentos e de trabalho legal produzido pelo escritório BSF é uma brutal violação das relações entre o escritório e seu cliente, o Oportunity. Também entendemos que tal quebra de confidencialidade viola a lei brasileira,” acrescenta o advogado americano.
Segundo Korologos, “dada a distância fizemos uso de e-mails e conferencias via fone e videofone. Isso nos EUA é protegido pela legislação, de forma a que as informações entre cliente e advogado possam fluir sem o receio que tais detalhes sejam revelados a outros. É também um princípio fundamental legal nos EUA que o produto do trabalho de um advogado, especialmente quando há ligações com uma litigância pendente, ainda em segredo de Justiça”, esteja protegido pelo sigilo”.
Korologos em seguida faz um arrazoado jurídico de 12 linhas, em que vindica o New York Civil Practice Laws and Rules, artigo 4503, a1, que prevê o segredo de justiça naquele estado americano, onde corre o processo do Citicorp contra o Opportunity. E prossegue. “Contrariamente a estas leis, desde fevereiro de 2007 a Polícia Federal do Brasil interceptou as comunicações privadas do escritório BSF e as incorporou a relatórios produzidos e preparados pela PF, que depois foram tornados públicos. “Também formos informados que membros da imprensa brasileira estão de posse de centenas, se não de milhares, de e-mails trocados entre nosso escritório e o Opportunity”.
Korologos encerra a carta pedindo a atuação do Departamento de Estado americano junto ao governo brasileiro para que se ponha fim às interceptações de comunicações entre o BSF e o Opportunity e Daniel Dantas. Pede também que sejam retirados dos autos e destruídos os documentos e informações obtidos de forma ilegal. Finalmente, pede a destruição de todas as cópias das interceptações que estejam sob o controle, posse ou custódia da Polícia Federal, Ministério da Justiça do Brasil, tribunais brasileiros e qualquer braço do governo federal do Brasil”.
Revista Consultor Jurídico, 2 de outubro de 2008

http://www.conjur.com.br/static/text/70416,1

Nova dica de filme velho


Quem me indicou "Muito Além do Jardim" foi uma antiga supervisora, para que refletíssemos sobre a ansiedade em interpretar palavras que, muitas vezes, não tinham nenhum conteúdo profundo, nada além daquilo que diziam objetivamente.


Visto por um outro lado, pode mostrar também que, no fundo, tudo depende da nossa interpretação.


"Às vezes, um charuto é apenas um charuto..."